segunda-feira, 19 de novembro de 2012

sobre fios e estrelas

Se tem uma coisa que eu jamais na vida entendi foi a quantidade de fios que a vida [moderna] nos tem imposto.

fio pra tv, pra rádio, pra mp3, mp4, mpTUDO, celular, máquina fotográfica, computador, tablet, porta retrato, abajur, relógio, ventilador, aquecedor, ar condicionado, iTUDO, geladeira, escoba de dente, cobertor, fogão, exaustor, roteador, chuveiro, máquina de lavar roupas, ferro de passar, cafeteira, filtro d'água, (...) Cansei!

Hoje, se a energia elétrica cair, o mundo pára! [Não por não funcionar, mas as pessoas que moram no mundo emburreceram, perderam a capacidade de sobreviver em um mundo desplugado, as empresas e os trabalhos precisam estar da rede para funcionarem também...] Se a energia acaba, não tem aula, não tem banho, não tem publicação, não tem jornal, não tem revista, não tem como revelar uma fotografia, não tem como jogar, não se pode mais conversar, a água é quente, não tem roupa limpa, não tem como adiantar aquela reunião [pq ela agora é por vídeo... ], não tem comida, pipoca, brigadeiro e nem hamburguer [pq sem energia o microondas não funciona...].

Gostava quando o final de semana era na charneca... passava o tempo entre os pés de goiaba, de milho e a coberta do pé de maracujá [brincando com as bonecas de sabugo]... isso quando não estávamos no areial ou tomando banho no rio pará. Quando era noite, nós assaltávamos o leite, de vaca tirado de manhã, que estava no isopor, enquanto os adultos acendiam os lampiões [e o fedor de querosene tomava conta da casa...] e esquentava a água no fogão a lenha "praquele" banho de caneco... Contávamos estrelas, sabíamos as constelações, jogávamos baralho, dama, futebol de botão, finca, forca, mico, pif-paf, brincávamos de contar histórias e estórias... víamos milhares de estrelas cadentes, cuidávamos da terra, plantávamos, comíamos sem agrotóxico e sem pressa, criávamos animais de penas, pêlos, anéis e o que mais pintasse e aproveitávamos o dia! 

Hoje acabou! não tem mais estrela do céu, a gripe aparece quase sempre, o agrotóxico agora é o sabor das coisas, os banhos só "pelando", baralho virou item de museu, dama, resta um, futebol de botão, leite de vaca, banho de rio e de chuva de verão, fruta direto do pé... não existem!

(...)

Pra viajar, a mala precisa ter um espaço extra para carregador de celular, de ipod, de máquina fotográfica e de escova de dente, cabo do notebook, do tablet e de sei lá mais o quê... No meio de tudo isso as coisas se  perdem.

...E agora já existem espaços nas mesas dos escritórios só para os fios... 

Nenhum comentário: